Sempre foi dito a Helene que os pais tinham morrido de doença, por coincidência ao mesmo tempo. Como era um assunto que incomodava Helene, esta nunca o explorou a fundo. Também nunca foi apresentado a promenor o que faziam os pais, nem porque tinham eles falido e entrado em decadência financeira. Mas o que encontrou naquela noite esclareceu muitos anos de ignorância.
Ao entrar na sala, Helene sentiu uma brisa gelada, que a fez sentir uma intrusa. Por momentos pensou retroceder, mas continuou pois a sala exercia sobre ela uma atracção inexplicável. Quando entrou por completo, não via nada, e acendeu uma vela que estava próxima. Aí, ficou claro para ela que não era um escritório, mas uma biblioteca com uma secretária. Helene adorava a leitura. Passou os dedos sobre as lombadas empoiradas e leu os títulos. Procedeu sempre da mesma maneira até à última prateleira. Lá, verificou que esta não continha livros, mas pastas. Abriu algumas e apercebeu-se que eram papéis de negócios de Mr.Cole. Mas houve uma que lhe chamou a atenção: uma pequena e insignificante paste, de cabedal negro. Abriu-a e reconheceu, com espanto, o nome de Antoine DeLover. ELa desconhecia qualquer relação entre o seu pai e Charles Cole. O que leu em seguida deixou-a gelada.
Charles Cole e Antoine DeLover tinham sido parceiros de negócios ainda novos. No entanto, uma zanga entre ambos separou-os e cada um seguiu o seu próprio negócio. O negócio de Antoine foi bastante mais próspero que o de Charles Cole, o que levou à inveja extrema do primeiro, pois ao contrário de Antoine, Mr.Cole era extremamente competitivo. Logo, Cole engendrou um plano de vingança contra Antoine, plano este que resultou, deixando Antoine DeLover e a família sem negócio, obrigando-os vender todos os seus perteces.
A Helene apenas foi permitido conhecer estes detalhes, pois quando lia uma nota no canto inferior de uma página, "DeLover e Cristina partiram em viagem para Roma", a porta da sala abriu-se, revelando uma irada Maryanne Cole, que reconheceu de imediato o que Helene lia.
-O que julga que faz aqui, menina DeLover?!
-Eu estava apenas a ver... não era minha intenção ler documentos privados de seu marido. Perdoe-me senhora...
-O que a levou a ler esses documentos? Deveria saber que não devia entrar em salas fechadas. Não é da sua conta o que está aqui guardado, menina! Daqui para a frente, limite-se a educar Anne Mary, pois tudo o resto não lhe diz respeito. E já que estamos a falar da educação de minha filha, devo dizer que não me agrada que a leve para fora de casa. Daqui em diante, vai resumir-se a dar-lhe as lições e ocupá-la durante a tarde, e qualquer saída para fora dos portões desta casa será punida severamente. O mesmo se aplica a Charlotte.
-Sim, senhora, mas achei que faria bem a Anne, pois....
-Não é paga para achar nada, menina DeLover. E por favor, trate-a por Anne Mary, pois apenas os mais próximos a ela têm esse direito. não tem permissão para a tratar por diminutivos.
-Sim, senhora.
Helene abandonou a biblioteca mortificada, decidida a nunca mais facilitar a vida aos Cole, já que tinhm sido os responsáveis pela falência dos seus pais. Apenas Anne Mary teria o direito de conviver com ela, assim como Charlotte. Embora adorasse a pequena, não passaria mais horas naquela casa de traidores mais tempo do que aquele que lhe era solicitado.
|| Leonardo
|| Janet
|| A Descoberta
|| O Baile
|| Maio 2007
|| Abril 2007