Uma descoberta nunca vem sozinha... A vingança, por vezes, é inevitável, mesmo sem fundamento.
(Nota: Devido a vários comentários postados anteriormente, sinto-me no dever de avisar que o início da história começa no fundo do blog e não no primeiro post, e que essa situação não dá para alterar)
Segunda-feira, 16 de Abril de 2007

A Mansão DeLover

Helene não conseguiu permanecer na mansão Cole durante muito mais tempo. Pegou nos seus pertences e saiu porta fora, sem se despedir. Caminhou sem saber para onde durante um bocado, e depois apercebeu-se onde estava. Inconscientemente caminhou até à sua antiga casa, a casa onde não se lembrava de ter vivido, mas que sabia ter outrora pertencido aos seus pais. Agora abandonada, a mansão DeLover tinha um aspecto majestoso, embora fantasmagórico. As ervas daninhas cresciam espontaneamente no espaço que outrora tinha sido o relvado. As rosas, que já tinha sido símbolo de riqueza, eram agora um emanharado de espinhos, sem cor nem forma definida. As sombras formavam danças nas paredes sujas e o portão com as inicias "DL" estava ferrugento e a desfazer-se.

Deu por si a entrar pelo portão destrancado, e assim que o fez um gato negro saltou do meio das ervas. Helene dirigiu-se à velha porta de carvalho, barricada com ripas de madeira. Encontrou um pedaço de ferro ali abandonado e bateu nas ripas até cederem. E com um empurrão, o outrora sólido pedaço de madeira abriu-se com um estalido, deixando escapar um cheiro a mofo. Caminhou pela entrada iluminada pela luz da lua cheia. O soalho rangia à medida que ela caminhava, mas nada diso a assustava. Andava receosa mas determinada e começou a entrar nas salas da casa, completamente abandonadas e cheias de teias de aranha. Várias peças de mobília estavam espalhadas por todo o lado, mas apenas mobílias demasiado pesadas para serem levadas, pois tudo o que era possível carregar tinha desaparecido, provavelmente sido roubado. Nada daquele andar lhe era familiar, até que decidiu subir as escadas. Vários degraus rangeram e partiram à medida que ela subia, mas finalmente alcançou o topo da escadaria. Entrou então noutro quarto, e lá dentro sentiu-se só e triste. Não percebeu porque até encontrar no chão uma boneca de porcelana. A boneca tinha caracóis castanhos e a cara partida e pálida. O único olho que possuia era penetrantemente azul. Helene rapidamente a reconheceu como sendo a sua boneca preferida de quando era muito pequena. Afagou os cabelos castanhos e olhou em volta. Cortinas despedaçadas pendiam do varão da janela. A madeira que forrava as paredes tinha apodrecido quase na sua totalidade, devido à humidade. Helene sentou-se a um canto do quarto, com a boneca na mão, e rompeu num pranto até que finalmente adormeceu ali mesmo, apenas acordando na manhã seguinte.  

 

 

Nessa manhã, Helene não se sentia capaz de sair de casa. Sozinha no quarto da sua modesta casa, Helene reflectia sobre acontecimentos recentes. Deitada na sua cama, remoía a forma cruel como Charles Cole tinha arruinado a sua família. Com certeza  que  Maryanne sabia do que se passara, pois tinha reagido bruscamente à sua presença na biblioteca. Odiava agora o casal Cole de todas as maneiras possíveis, mas não conseguia odiar as filhas nem tinha coragem para se demitir daquele lugar. O que faria Anne Mary sem ela? Arranjar-lhe-iam uma preceptora cruel e imensamente severa como Mrs.Tellorman? Não, não poderia considerar essa hipótese. Anne Mary não sabia de nada, nem tinha culpa do que acontecera anteriormente. Para além disso, já estavam demasiado habituadas uma à outra.

Helene ansiava desesperadamente por encontrar algo com que se distrair. Pegou num livro e leu até lhe doer a vista. Aí, largou o livro, vestiu-se e abandonou a casa.

publicado por Libera às 19:56
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1 comentário:
De mj a 16 de Abril de 2007 às 23:55
eu aqui mudava só o facto de ser noite pois, mesmo com luar, niguém consegue ver tantos promenores. A escrita está muito melhor. gosto da parte descritiva do canário.


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