Enquanto passeava com Leonardo, Helene foi conhecendo o passado da sua companhia.
-Disse-me que tinha algo em comum comigo...O que era? - interrogou Helene.
-Meus pais também eram italianos. Giuseppe e Cynzia Santorini eram os seus nomes...
-Então... Você vive com os seus avós, estou certa? Porque não vive com os seus pais?
-Meu pai abandonou-me e à minha mãe, quando eu era ainda um rapazinho. A minha mãe morreu de doença quando eu tinha 11 anos...
-Compreendo. Meus pais morreram quando eu era pequenina, e fiquei a viver com a minha tia Maria. Ela faleceu também, há algum tempo.
-Então...mais uma coisa que temos em comum! Uma coisa triste, mas... - comentou Leonardo.
-De facto.
-Desculpe insistir, mas...de que morreram os seus pais?
-Não sei. Eles partiram numa viagem de negócios. Iriam voltar, é claro. Deixaram-me com a minha tia até ao seu regresso, que nunca se deu...
-Porque nunca perguntou o que lhes aconteceu? - perguntou Leonardo.
-Porque ninguém sabe ao certo. A minha tia inventava uma história de cada vez que lhe perguntava onde eles estavam, para não me contar a verdade. Eu cheguei a pensar que eles me tinham abandonado propositadamente. Mas quando a tia morreu, encontrei um telegrama antigo na gaveta da sua secretária. Pelo que percebi das letras que restavam, foram assassinados...mas ninguém encontrou o responsável.
-Triste, de facto. Lamento imenso. Lembra-se deles?
-Não, não lembro. Nem faço ideia de como eles eram. A tia chorava senmpre que falava neles... Portanto nunca tive coragem de lhe perguntar.
-Os meus avós dir-lhe-iam. Porque não perguntou?
-Ora, não me lembrei de tal coisa! Já passou algum tempo desde que ocupava os meus dias a pensar nisso...
Leonardo não insistiu no assunto, mas continuou a querer saber da vida da recém conhecida.
-E...ambiciona algo para o futuro? - perguntou.
-Estou bem assim...acho. Trabalho em casa dos Cole, como perceptora da menina mais nova. É encantadora! Gosto muito dela...
-E gosta de lá trabalhar?
-Já não...não há dia nenhum em que não deseje sair de lá, mas não posso. O que seria da menina sem mim? Para além disso, necessito do dinheiro. Não esqueça que vivo sozinha.
-Estranho...
-O que é estranho? - perguntou Helene, admirada.
-Quando pergunto quais as ambições a uma rapariga, inclui sempre um casamento.
-Não é, neste momento, uma prioridade. Não me julgue igual a outras raparigas...Duvido que haja poucas como eu.
-Peço desculpa se a ofendi - disse Leonardo, humildemente.
-Não me ofende de modo algum. Ora...que maçada. Olhe as horas! Tenho de ir para casa...Voltaremos a encontrar-nos - acrescentou com um sorriso.
-Então, deixe-me levá-la a casa... Não permitiria de modo algum deixá-la ir sozinha.
-Mas Maryanne, que tens tu? - perguntou, irritado, Charles Cole, em uma das poucas vezes que falou com a esposa.
-Foi aquela intrometida da Helene...
-O que se passou?
-Entrou na biblioteca, sem autorização!
-Ora, não é caso para tanta ira, Maryanne...
-Sabes lá tu! Tu não sabes nada... Por causa de ti e das tuas tramas é que ela encontrou o que encontrou!
-E o que é que ela encontrou? Diz-me!
-Os teus documentos, que provam a tua traição contra o pai dela!
Charles ficou apreensivo. Nunca pensara que aqueles documentos fossem encontrados. Tinha-os escondido no meio das outras pastas para não darem nas vistas, e agora quem ele não desejava que os encontrasse de maneira nenhuma tinha-os lido.
-E a culpa é minha? Esqueces-te do motivo pelo que o fiz! Se não fosse eu, as minhas tramas e a minha misericórdia não estarias aqui agora.
-Eu esqueço-me do motivo? Claro que não me esqueço! E também não me esqueço do que fizeste depois, do que eu te tentei impedir de fazer! Se ela descobre isso, eu...
-Cala-te!! -interrompeu Charles, com uma forte bofetada na cara da mulher. A culpa é tua! Tu é que a contrataste, mesmo sabendo de tudo! Eu não tinha feito o que fiz, se não fosses tu!
E dirigiu-se à porta, deixando a mulher a um canto, chorosa. Parou, e virou-se.
-Ela leu até onde?
-Não sei...- respondeu Maryanne, sem levantar a cabeça.
E abandonou a sala.
|| Leonardo
|| Janet
|| A Descoberta
|| O Baile
|| Maio 2007
|| Abril 2007